Não dê ponto sem nó: o ponto final

Vamos começar a falar sobre pontuação com o mais simples e singelo sinal gráfico que se tem notícia: o ponto final.

O ponto final marca uma pausa.
Pronto, aí está toda a informação que você precisa para o uso eficiente do ponto final.

Hum, acabou? Posso parar de ler o post?
Hum, não.

Você sabe como as pausas são importantes. Necessárias.
Pausa para um café.
Pausa para uma soneca.
Pausa no filme, para buscar mais pipoca.

O seu texto também precisa dessas pausas, para ajudar o leitor a respirar no meio da argumentação ou descrição. Se o seu texto pudesse oferecer uma xícara de café, uma almofada ou uma pipoca quentinha, seu leitor se sentiria muito mais acolhido. Mas, acredite, o leitor já fica muito satisfeito com pausas entre os argumentos, ideias e assuntos de seu texto. Essas pausas guiam a compreensão do leitor.

Como eu encontro os intervalos entre os argumentos, ideias e assuntos do meu texto?
Essa é uma excelente pergunta. A gente pensa em avalanche, sem pontos finais em lugar algum. Na escrita, os pontos auxiliam a ordenar esse pensamento. Com uma pontuação adequada, nosso pensamento consegue chegar coerente ao leitor.

Muitas vezes, você não vai saber de antemão onde existem pontos finais no seu texto. Só depois de reler tudo. A minha sugestão é, primeiro, escreva, escreva, escreva. Depois, releia para identificar cada argumento, cada ideia. Ao identificá-los, você reconhecerá o início e o fim de cada um e saberá como organizá-los.

Quanto mais pausas você der ao texto, melhor seu leitor vai compreender cada argumento, cada ideia.

Ao escolher os momentos de pausa em seus argumentos, você pode seguir um estilo roseano, como nesse exemplo em que João Guimarães Rosa explica a seu tradutor italiano o que são veredas:

Mas, por entre as chapadas, separando-as (ou, às vezes, mesmo no alto, em depressões no meio das chapadas), há as veredas. São vales de chão argiloso ou turfo-argiloso, onde aflora a água absorvida. Nas veredas, há sempre o buriti. De longe, a gente avista os buritis e já sabe: lá se encontra água. A vereda é um oásis. Em relação às chapadas, elas são, as veredas, de belo verde-claro, aprazível, macio. O capim é verdinho-claro, bom. As veredas são férteis. Cheias de animais, de pássaros.

Nas veredas, há sempre o buriti.
A vereda é um oásis.
As veredas são férteis.
As descrições são curtas, pausadas. Cada pausa enriquece o sentido e ajuda o leitor a visualizar a paisagem.

Para descobrir maneiras de utilizar o ponto final, você pode também inspirar-se em textos que encontrar ao acaso, em revistas, propagandas, blogs. Em textos publicitários, há usos como:

Nova F-250 com tração 4×4. É forte. É 4×4. É Ford.

Nesse exemplo, as frases curtíssimas dão ênfase tanto ao modelo de camionete quanto às características listadas em seguida.

Com o tempo, você vai perceber como os usos não convencionais do ponto final são bem-vindos, mesmo nos casos em que seria indicado o uso do ponto e vírgula ou da vírgula.

Com isso eu já vou conseguir melhorar meu texto?
Sim! Agora, então, um pouco de cultura geral para terminar o post: os pontos finais podem ser chamados de ponto simples ou ponto parágrafo.
Os pontos simples separam as frases sobre um mesmo assunto, dentro do parágrafo.
Os pontos parágrafo separam os grupos de assunto do texto em parágrafos.
Tudo muito organizado!

 
Referências:

A Metalinguagem de Guimarães Rosa (Scripta – Revista do Programa de Pós-graduação em Letras e do Centro de Estudos Luso-afro-brasileiros da PUC Minas)

A pontuação em peças publicitárias: uso, estratégia ou abuso? (Cadernos do CNLF, Volume X, no. 14 Fonética e Fonologia; Léxico e Semântica)

Moderna Gramática Portuguesa

4 Comments

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  1. Mateus Martins de Toledo 13 de janeiro de 2016 — 09:27

    Com certeza vai ajudar bastante nos meus textos! Parabéns pela didática!

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